Discernimento Educacional (parte1) - Hinduism Today

Dez Questões Que As Pessoas Fazem Acerca Do Hinduísmo... e dez respostas formidáveis

A mais profunda fé da humanidade é agora um fenómeno global. Estudantes, professores, vizinhos e amigos têm muitos questões. Conceções erradas dissiminam-se sem controlo. Aqui estão dez respostas refletidas que pode usar para acabar com os mal entendidos.

Alguma vez foi encostado à parede com uma questão provocativa sobre Hinduísmo, até mesmo uma que realmente não deveria ser tão difícil de responder? Se sim, não está sozinho. Requer uma boa preparação e algum ajuste de atitude para confiantemente dissipar dúvidas sobre a sua fé sejam de colegas de trabalho amigáveis, estudantes, transeuntes ou, especialmente, de evangelistas Cristãos. Na primavera de 1990, um grupo de adolescentes de Hindu Temple of Greater Chicago, Lemont [E.U.A.], enviou um pedido a Hinduism Today para “respostas oficiais” a nove questões que lhes eram frequentemente feitas pelos seus colegas. Estas questões tinham causado perplexidade na própria juventude Hindu; e os seus pais não tinham respostas convincentes. Satguru Sivaya Subramuniyaswami abraçou o desafio e providenciou as respostas seguintes às nove questões. Lendo compenetradamente a lista para esta edição da revista, pensamos ser crucial adicionar uma décima questão sobre castas, já que, é a mais implacável crítica que o Hinduísmo enfrenta hoje em dia.

Vamos começar com conselhos sobre a atitude a ter quando responder Primeiro, pergunte-se, “Quem está a fazer a pergunta?” Milhões de pessoas estão sinceramente interessadas no Hinduísmo e nas muitas religiões asiáticas. Então, quando lhe perguntarem sobre Hinduísmo, não seja defensivo, mesmo se quem questiona parece confrontador. Invés disso, assuma que a pessoa quer realmente aprender. Claro que, alguns apenas querem perturbar, irritar e convertê-los à sua visão. Se você sentir que é esse o caso, sinta-se à vontade para sorrir e cordialmente retirar-se sem qualquer tentativa em responder, a fim de não acrescentar gasolina às suas chamas.

Com tudo isso em mente, é melhor nunca responder de uma forma muito ousada ou imediata a uma questão sobre religião. Isso pode levar a confrontação. Ofereça um prólogo primeiro, depois retorne à questão, guiando o inquiridor ao entendimento. O seu raciocínio e ponderação conferem a garantia de que você sabe do que está a falar. Também lhe dá um momento para pensar e extrair do seu saber intuitivo. Antes de aprofundar uma resposta, pergunte sempre ao inquiridor qual a sua religião. Sabendo isso, poderá dirigir-se ao seu modo de pensar particular e tornar a sua resposta mais relevante. Outra dica: tenha confiança em si mesmo e na sua habilidade em dar uma resposta significativa e educada. Mesmo dizendo “Peço desculpa. Eu ainda tenho muito a aprender sobre a minha religião e ainda não sei a resposta a isso” é uma resposta significativa. A honestidade é sempre apreciada. Nunca receie admitir aquilo que você não sabe, pois isso confere credibilidade àquilo que você sabe.

Aqui estão quatro prólogos que podem ser usados, de acordo com a situação, antes de verdadeiramente responder uma questão. 1) “Fico muito contente por você estar interessado na minha religião. Talvez você não saiba que uma em cada seis pessoas no mundo é Hindu.” 2) “Muitas pessoas me perguntaram sobre a minha tradição. Eu não sei tudo, mas tentarei responder as suas questões.” 3) “Primeiro, saiba que no Hinduísmo não é somente importante a crença e o entendimento intelectual. Os Hindus colocam maior valor na experiência pessoal destas verdades.” 4) O quarto tipo de prólogo é repetir a questão para perceber se a pessoa realmente declarou aquilo que quer saber. Repita a questão nas suas próprias palavras e pergunte se entendeu a sua pergunta corretamente. Se for uma questão complicada, pode começar por dizer, “Filósofos passaram vidas inteiras a discutir e refletir questões como essa, mas eu farei o meu melhor para explicar.”

Tenha coragem. Fale a partir da sua mente interior. Sanatana Dharma é um caminho prático, não um dogma, e assim a sua experiência em responder questões irá ajudá-lo no seu próprio progresso espiritual. Você irá aprender pelas suas respostas se escutar a sua mente interior falar. Isto pode até ser bastante divertido. O professor atento aprende sempre mais que o aluno.

Após o prólogo, aborde a questão sem hesitação. Se a pessoa é sincera, você pode perguntar, “Tem mais alguma questão?” Se ela quiser saber mais, então elabore o melhor que puder. Use exemplos fáceis, do dia a dia. Partilhe aquilo que almas iluminadas e as escrituras do Hinduísmo disseram sobre o assunto. Lembre-se, não podemos assumir que todos os que perguntam sobre Hinduísmo sejam insinceros ou estejam a desafiar a nossa fé. Muitos estão apenas a ser amistosos ou a fazer conversa para o conhecer. Então não fique à defesa nem leve isso muito a sério. Sorria quando der a sua resposta. Seja aberto. Se a segunda ou a terceira questão é sobre algo que você não sabe, você pode dizer, “Eu não sei. Mas se você está realmente interessado, eu descubro, envio-lhe alguma literatura por correio ou empresto-lhe um dos meus livros.” Sorria e tenha confiança enquanto dá estas respostas. Não seja tímido. Não existe questão que possa ser posta nos karmas do seu nascimento que você não possa responder com uma agradável resposta que satisfaça totalmente o buscador. Desta forma, pode fazer amigos para toda a vida.

Cada uma das dez explicações está organizada com uma curta resposta que pode ser memorizada, uma resposta mais longa, e uma explanação detalhada. Muitos inquiridores ficarão satisfeitos com a resposta curta e simples, por isso comece com essa primeiro. Use a explanação como informação de fundo para si mesmo, ou como uma resposta de contingência em caso de uma discussão filosófica mais profunda. Recursos adicionais aqui.


1. Porquê que o Hinduísmo tem tantos Deuses?

Todos os Hindus acreditam num Deus Supremo que criou o universo. Ele permeia tudo. Ele criou muitos Deuses, seres espirituais altamente avançados, para serem os Seus ajudantes.

Contrariamente às conceções erradas comuns, todos os Hindus veneram um Ser Supremo, apesar de usarem nomes diferentes. Isto porque os povos da Índia com línguas e culturas diferentes entenderam o único Deus à sua maneira. Ao longo da história surgiram quatro denominações Hindus principais – Saivismo, Shaktismo, Vaishnavismo e Smartismo. Para os Saivitas, Deus é Siva. Para os Shaktas, a Deusa Shakti é suprema. Para os Vaishnaivas, o Senhor Vishnu é Deus. Para os Smartas – que vêem todas as Deidades como reflexo do Único Deus – a escolha da Deidade é deixada ao devoto. Esta perspectiva liberal Smarta é bem conhecida, mas não é a visão Hindu predominante. Devido a esta diversidade, os Hindus são profundamente tolerantes com as outras religiões, respeitando o facto que cada uma tem o seu próprio caminho para com o Deus único.

Um dos entendimentos particulares no Hinduísmo é que Deus não está lá longe, a viver num céu remoto, mas dentro de cada alma, no coração e na consciência, à espera de ser descoberto. Este entendimento que Deus está sempre connosco dá-nos esperança e coragem. Conhecer o Grande Único Deus desta forma íntima e experencial é a meta da espiritualidade Hindu.

Elaboração: O Hinduísmo é tanto monoteísta e henoteísta. Os Hindus nunca foram politeístas, no sentido que existem muitos Deus iguais. Henoteísmo (literalmente “um Deus”) define melhor a visão Hindu. Significa a veneração de um Deus sem negar a existência de outros Deuses. Nós Hindus acreditamos no todo penetrante Deus que energiza o universo inteiro. Podemos vê-Lo no brilho dos olhos dos humanos e de todas as criaturas. Esta visão de Deus existindo em todas as coisas e dando-lhes vida é chamada de panenteísmo. É diferente de panteísmo, que é a crença que Deus é o universo natural e nada mais. É também diferente do teísmo estrito que diz que Deus está acima do mundo, afastado e transcendente. Pananteísmo é um conceito que abarca tudo. Diz que Deus está no mundo e para além dele, tanto imanente como transcendente. Esta é a mais alta visão Hindu.

Os Hindus também acreditam em muitos Deuses que realizam várias funções, como executivos numa grande corporação. Estes não devem ser confundidos com o Deus Supremo. Estas Divindades são seres altamente avançados que têm tarefas e poderes específicos – não diferentes de espíritos celestiais, soberanos ou arcanjos reverenciados noutras fés. Cada denominação venera o Deus Supremo e o seu panteão de seres divinos.

O que é, por vezes, confuso aos não-Hindus é que os Hindus de várias seitas podem chamar o Deus único por diferentes nomes, de acordo com a sua denominação ou tradição regional. A verdade para o Hindu tem muitos nomes, mas isso não implica muitas verdades. O Hinduísmo dá-nos a liberdade de aproximar-mo-nos de Deus à nossa maneira, encorajando a multiplicidade de caminhos, sem pedir a conformidade a apenas um.

Existe muita confusão acerca deste assunto, até mesmo entre Hindus. Aprenda os termos certos e as sutis diferenças neles, e poderá explicar as formas profundas de como os Hindus vêem a Divindade. Os outros irão deleitar-se com a riqueza dos conceitos indianos de Deus. Você poderá querer mencionar que alguns Hindus acreditam apenas na Realidade Absoluta sem forma como Deus; outros acreditam em Deus como o Senhor pessoal ou Criador. Esta liberdade faz do entendimento de Deus no Hinduísmo, a mais velha religião praticada ainda hoje, a mais rica fé de todas existentes na Terra.

2. Os Hindus acreditam na reencarnação?

Sim, acreditamos que a alma é imortal e que nasce uma e outra vez. Através deste processo, temos experiências, aprendemos lições e progredimos espiritualmente. Finalmente, concluímos os nascimentos físicos.

Encarnar significa “da carne”, e reencarnar significa “reentrar a carne.” Sim, os Hindus acreditam na reencarnação. Para nós, explica a forma natural como a alma progride da imaturidade à iluminação espiritual. Vida e morte são realidades para todos nós. O Hinduísmo acredita que a alma é imortal, que nunca morre, mas que habita um corpo após o outro na Terra durante a sua viagem evolutiva. Assim como a transformação da lagarta em borboleta, a morte física é a transição mais natural para a alma, que sobrevive e, guiada pelo karma, continua a sua longa peregrinação até ser una com Deus.

Pessoalmente, tive muitas vidas anteriores a esta e suponho vir a ter mais. Finalmente, quando tiver tudo solucionado e todas as lições aprendidas, atingirei a iluminação e moksha, libertação. Isto significa que eu ainda existirei, mas que não serei mais trazido de volta a nascer num corpo físico.

Até a ciência moderna está a descobrir a reencarnação. Tem havido muitos casos de indivíduos a lembrarem-se das suas vidas passadas. Estas foram investigadas por cientistas, psiquiatras e parapsicólogos durante as últimas décadas e documentadas em bons livros e vídeos. Crianças pequenas falam de memórias vívidas de vidas passadas, que desvanecem com o seu envelhecimento, à medida que o véu da individualidade envolve o entendimento intuitivo da alma. Místicos notáveis falam das suas vidas passadas também. Assim também as nossas escrituras antigas, os Vedas, revelam a realidade da reencarnação.

Jainistas e Siques acreditam na reencarnação, assim com os índios das Américas, os Budistas, algumas seitas Judaicas, Pagãos e as muitas fés indígenas. Até mesmo o Cristianismo originalmente ensinou a reencarnação, mas renunciou-a formalmente no século XII. Na realidade, é um dos artigos de fé mais transversais no planeta Terra.

Elaboração: Após a morte a alma deixa o corpo físico. Mas a alma não morre. Continua a viver num corpo sutil chamado corpo astral. O corpo astral existe na dimensão não física chamada plano astral, que é também o mundo em que nos encontramos durante os nossos sonhos quando dormimos. Aqui continuamos a ter experiências até renascermos de novo noutro corpo físico como um bebé. Cada alma reencarnada escolhe uma casa e uma família que possam providenciar da melhor maneira o seu próximo passo de aprendizagem e amadurecimento.

Após muitas vidas seguindo o dharma, a alma está totalmente amadurecida em amor, sabedoria e conhecimento de Deus. Não existe mais a necessidade de um nascimento físico, pois todas as lições foram aprendidas, e todos os karmas realizados. Essa alma é então liberada, liberta do ciclo de nascimento, morte e renascimento. A evolução então continua nos mundos espirituais mais refinados. Da mesma forma, após termos terminado o ensino básico não temos nunca mais que voltar à quarta classe. Nós ultrapassamos esse nível em conhecimento. Assim, a meta suprema da vida não é o dinheiro, nem roupas, nem sexo, nem poder, nem comida nem nenhuma outra das necessidades instintivas. Estas são buscas naturais, mas o nosso propósito real nesta Terra é conhecer, amar e servir Deus e os Deuses. Isso leva aos raros e inestimáveis objetos da vida: iluminação e libertação. Esta visão Hindu da evolução da alma responde muitas questões desconcertantes, remove o medo da morte enquanto assegura que cada alma está a evoluir em direção ao mesmo destino espiritual, já que, o Hindu acredita que o karma e a reencarnação levam cada alma à realização de Deus.

3. O que é o karma?

Karma é o princípio universal de causa e efeito. As nossas ações, tanto boas como más, voltam para nós no futuro, e ajudam-nos a aprender as lições da vida e a tornar-mo-nos pessoas melhores.

Karma é uma das leis naturais da mente, assim como a gravidade é uma lei da matéria. Assim como Deus criou a gravidade para trazer ordem ao mundo físico, Ele criou o karma como um sistema divino de justiça que é auto-governante e infinitamente justo. Automaticamente cria a experiência futura apropriada em resposta à ação atual. Karma simplesmente significa “ação” ou “causa e efeito.” Quando alguma coisa, aparentemente desafortunada ou injusta, nos acontece não é Deus que nos está a castigar. É o resultado das nossas próprias ações passadas. Os Vedas, as escrituras reveladas do Hinduísmo, dizem-nos que se semearmos bondade iremos colher bondade; se semearmos maldade, iremos colher maldade. Assim nós criamos o nosso próprio destino através de pensamento e ação. E a lei divina é: qualquer que seja o karma que estejamos a experienciar na nossa vida é apenas aquilo que necessitamos no momento, e nada pode acontecer a não ser aquilo para o qual nós temos forças para enfrentar. Até mesmo karma adverso, quando enfrentado com sabedoria, pode ser o maior catalisador para o crescimento espiritual. Entendendo a forma como o karma funciona, nós buscamos viver uma vida boa e virtuosa através do pensamento correto, do discurso correto e da ação correta. A isto chama-se dharma.

Elaboração: Karma é basicamente energia. Eu emito energia para fora através de pensamentos, palavras e ações, e volta para mim, a seu tempo, através das outras pessoas. Karma é o nosso melhor professor, pois nós temos sempre que enfrentar as consequências das nossas ações e assim melhorar e refinar o nosso comportamento, ou sofrer se não o fizermos. Nós Hindus olhamos para o tempo como um círculo, já que, as coisas são cíclicas. O professor Einstein chegou à mesma conclusão. Ele via o tempo como uma curva, e o espaço também. Isto iria eventualmente descrever um círculo. Karma é uma lei muito justa que, como a gravidade, trata todos por igual. Porque nós Hindus entendemos o karma, não odiamos ou ressentimo-nos com as pessoas que nos fazem mal. Nós entendemos que elas estão a dar de volta os efeitos das causas que acionamos previamente. A lei do karma coloca o homem no centro da responsabilidade de tudo o que faz e tudo o que lhe é feito.

Karma é uma palavra que ouvimos com regularidade na televisão. “Este é o meu karma,” ou “Deve ter sido alguma coisa que eu fiz numa vida passada que traz um karma tão bom até mim.” Ouvimos o karma a ser definido tão simplesmente como “O que vai, volta.” Nalgumas escola do Hinduísmo, o karma é visto como uma coisa má – talvez porque tenhamos mais consciência desta lei quando enfrentamos karma difícil, e menos consciência dela quando a vida corre facilmente. Até mesmo alguns Hindus equiparam o karma ao pecado, e isto é o que Cristãos evangélicos pregam ser. Muitas pessoas acreditam que karma significa “destino,” um destino pré-concebido sobre o qual não têm controlo, o que também não é verdade.

O processo de ação e reação em todos os níveis – físico, mental e espiritual – é karma. Aqui está um exemplo. Eu digo-lhe palavras amistosas, e você sente-se em paz e feliz. Eu digo-lhe palavras rudes, e você sente-se irritado e perturbado. A bondade e a rudeza irão retornar a mim, através dos outros, mais tarde. Isto é karma. Um arquiteto pensa de forma criativa e produtiva enquanto desenha a planta para um prédio novo. Mas, se ele tivesse pensamentos destrutivos e improdutivos rapidamente tornar-se-ia incapaz de realizar qualquer tarefa positiva, mesmo que o desejasse. Isto é o karma, uma lei natural da mente. Temos também que ter muito cuidado acerca dos nossos pensamentos, porque o pensamento cria, e os pensamentos fazem karmas – bons, maus e misturados.

4. Porquê que os Hindus veneram a vaca?

Os Hindus não veneram vacas. Nós respeitamos, honramos e adoramos a vaca. Ao honrar este gentil animal, que dá mais do que recebe, honramos todas as criaturas.

Os Hindus consideram sagradas todas as criaturas vivas – mamíferos, peixes, pássaros e mais. Nós reconhecemos esta reverência pela vida na nossa afeição especial pela vaca. Nos festivais nós decoramo-la e honramo-la, mas não a veneramos no sentido que veneramos a Divindade.

Para o Hindu, a vaca simboliza todas as outras criaturas. A vaca é um símbolo da Terra, a nutridora, a sempre doadora, a fornecedora sem exigências. A vaca representa a vida e o sustento da vida. A vaca é tão generosa, tomando para si nada mais que água, relva e grãos. Dá, dá e dá o seu leite, assim como a alma liberta dá o seu conhecimento espiritual. A vaca é tão vital à vida, o sustento virtual da vida, para muitos humanos. A vaca é um símbolo de graça e abundância. Veneração da vaca incute nos Hindus as virtudes da delicadeza, recetividade e conexão com a natureza.

Elaboração: Quem mais dá no planeta Terra hoje em dia? Quem vemos em todas as mesas em todos os países do mundo – pequeno-almoço, almoço e jantar? É a vaca. Os postos de venda de carne de vaca dos arcos dourados da MacDonald's e os seus rivais fizeram fortunas à custa da humilde vaca. A generosa vaca dá leite e nata, iogurte e queijo, manteiga e gelado, ghee e soro de leite. Dá-se totalmente através do lombo, costelas, alcatra, bife e guisado. Os seus ossos são a base de caldos e colas. Dá ao mundo cintos de pele, assentos em pele, casacos de pele e sapatos, salgadinhos, chapéus de cowboy – você escolhe. A única questão relacionada com vacas para os Hindus é, “Porquê que não existem mais pessoas a proteger e a respeitar esta extraordinária criatura?” Mahatma Gandhi disse uma vez, “É possível medir a grandeza de uma nação e os seus progressos morais pela forma como tratam os seus animais. Proteger a vaca, para mim, não é apenas a mera proteção da vaca. Significa proteger tudo aquilo que vive e é impotente e fraco no mundo. A vaca significa o inteiro mundo subhumano.”

Na tradição Hindu, a vaca é honrada, adornada com flores e alimentada de uma forma especial nos festivais em toda a Índia, especialmente, no festival anual Gopashtama. Demonstrando como encarecidamente os Hindus amam as suas vacas, joalharia colorida para vaca e vestuário é vendido em feiras por todo o campo indiano. Desde tenra idade que as crianças são ensinadas a decorar a vaca com guirlandas, pinturas e ornamentos. A sua natureza é resumida em Kamadhenu, a vaca divina, que concede desejos. A vaca e os seus presentes sagrados – leite e ghee em particular – são elementos essenciais na veneração Hindu, penitência e rituais de passagem. Na Índia, mais de 3,000 instituições chamadas Gaushalas, mantidas por instituições de caridade, cuidam de vacas velhas e enfermas. E embora muitos Hindus não sejam vegetarianos, a maioria respeita o ainda largamente mantido código de abstinência de carne de vaca.

Pela sua natureza dócil e tolerante, a vaca exemplifica a virtude cardinal do Hinduísmo, não violência, conhecida por ahimsa. A vaca também simboliza dignidade, força, resistência, maternidade e serviço abnegado.

Nos Vedas, as vacas representam riqueza e uma jubilosa vida terrena. No Rig Veda (4.28.1;6) lemos, “As vacas vieram e trouxeram-nos boa sorte. Nos nossos estábulos, satisfeitas, possam ficar! Possam trazer bezerros para nós, muito coloridos, dando leite para Indra todos os dias. Vocês fazem, Ó vacas, o homem magro elegante; ao desagradável vocês trazem beleza. Regozijem-se com a nossa propriedade com mugidos agradáveis. Nas nossas assembleias enaltecemos o vosso vigor.”

5. Os Hindus veneram ídolos?

Os Hindus não veneram um “ídolo” de pedra ou metal como Deus. Nós veneramos Deus através da imagem. Invocamos a presença de Deus, a partir dos mundos mais elevados e invisíveis, na imagem para que possamos comungar com Ele e receber as suas Suas bênçãos.

As imagens das divindades em pedra ou metal nos templos e altares Hindus não são meros símbolos dos Deuses. Elas são as formas pelas quais o seu amor, poder e bênçãos chegam a este mundo. Podemos comparar este mistério à nossa habilidade de comunicar com os outros através do telefone. Não falamos com o telefone; ao invés disso, usamos o telefone como um meio de comunicação com outra pessoa. Sem o telefone, não poderíamos conversar a longas distâncias; e sem o ícone santificado no templo, não podemos comungar facilmente com a Divindade. A Divindade também pode ser invocada e sentida num fogo sagrado, ou numa árvore, ou na pessoa iluminada de um satguru. Nos nossos templos, Deus é invocado no santuário por sacerdotes altamente treinados. Através da prática de yoga, ou meditação, invocamos Deus dentro de nós. Yoga significa unirmo-nos interiormente com Deus. A imagem ou ícone de veneração é um foco para as nossas orações e devoções.

Uma outra forma de explicar a veneração de ícones é reconhecer que os Hindus acreditam que Deus está em todo o lado, em todas as coisas, quer na pedra, madeira, criaturas ou pessoas. Então, não é surpreendente que eles se sintam confortáveis venerando o Divino na Sua manifestação material. O Hindu consegue ver Deus na pedra e na água, fogo, ar e éter, e dentro da sua própria alma. De facto, existem templos Hindus que não possuem nenhuma imagem no santuário interior a não ser um yantra, um diagrama simbólico ou místico. No entanto, a visão da imagem aumenta a veneração do devoto.

Elaboração: No Hinduísmo uma das últimas realizações acontece quando o buscador transcende a necessidade de toda a forma e símbolo. Esta é a meta do yogi. Desta forma, de todas as religiões do mundo, o Hinduísmo é a que menos se direciona a ídolos. Nem existe outra religião que use mais símbolos para representar a Verdade na preparação para essa realização.

Gracejando podemos dizer, os Hindus não são crentes ociosos [nt: idle]. Nunca vi um Hindu venerar de uma forma preguiçosa ou inerte. Eles veneram com grande vigor e devoção, com extrema regularidade e constância. Não há nada de ocioso nas nossas formas de veneração! (Um pouco de humor nunca faz mal.) Mas, claro, a questão é acerca das “imagens gravadas.” Todas as religiões têm os seus símbolos de santidade através das quais o sagrado flui para o mundano. Para nomear algumas: a cruz Cristã, ou estátuas de Maria e Santa Teresa, a sagrada Kaaba em Meca, a Sique Adi Granth instalada no Golden Temple em Amritsar, a Arca e a Tora dos Judeus, a imagem do Buddha em meditação, os totens das fés indígenas e Pagãs, e os artefactos dos homens santos e mulheres santas de todas as religiões. Tais ícones, ou imagens gravadas são tidas em reverência pelos seguidores das respetivas fés. A questão é, isto torna todos os religiosos veneradores de ídolos? A resposta é, sim e não. Da nossa perspetiva, veneração de ídolos é uma prática inteligente e mística partilhada por todas as grandes fés do mundo.

A mente humana liberta-se do sofrimento através do uso de formas e símbolos que despertam reverência, invocam santidade e sabedoria espiritual. Até mesmo um fundamentalista Cristão que rejeita todas as formas de veneração de ídolos, incluindo aquelas das igrejas Católica e Episcopal, iria ressentir-se se alguém mostrasse desrespeito pela sua Bíblia. Isto porque ele a considera sagrada. O seu livro e o ícone Hindu são muito parecidos neste sentido.

Final da primeira parte. Segunda parte aqui.

Excerpted and translated by Gustavo Cunha from Hinduism Today, published by Himalayan Academy; copyright © 1979-2009 Himalayan Academy. All rights reserved. Website: www.hinduismtoday.com. This material may not be reproduced in any form or sold without prior written permission by Hinduism Today.

Excerto da edição de Abril/Maio/Junho de 2004 da revista Hinduism Today: “Part 1: Ten Questions People Ask About Hinduism... and ten terrific answers” disponível aqui. Tradução do Inglês por Gustavo Cunha e publicado em Yogavaidika.com com a permissão de Hinduism Today. Logotipo de topo propriedade de Hinduism Today.

Comentários

  1. Namaste Gustavo!

    Muito boa essa sua postagem.

    É sempre bom ler e saber mais a respeito desses assuntos.

    Obrigada ;-)

    Om Shanti

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