Música da Índia - Franklin Pereira

Desenvolvida durante séculos em ambientes de templo, de corte e de "escolas" regionais, a música da Índia foi sendo enriquecida com imensas escalas, improvisações, recriações e um refinamento incomparável. Entre os muitos instrumentos de cordas, destaca-se a rudra veena, bin ou been, associada ao estilo antigo e arcaico - o dhrupad - e também ao culto de Shiva, sem esquecer o misticismo Sufi. Por volta do século XVIII, o domínio da rudra veena foi decaindo a emergência do novo estilo Khayal, representado pela sitar, a limitação do ensino da rudra veena aos descendentes directos dos seus instrumentistas, fez com que o uso deste instrumento passasse a secundário.

Foi nessa época - início do século XIX - que Ghulam Mohammad, um músico de dhrupad, criou o surbahar (literalmente "a primavera das notas"). O instrumento é uma versão aumentada da kachua sitar, isto é, sitar com a cabaça (caixa de ressonância) cortada na horizontal, e não na vertical. Tal como acontecia com a rudra veena, o surbahar - também denominado kashapi veena - permaneceu integrado na música clássica, em particular no desenvolvimento do alap (a fase inicial, lenta e meditativa, de qualquer raga). A crescente popularidade da sitar, e do estilo Khayal (mais versátil e ornamentado que o anterior), também ajudou a destronar a rudra veena; um recital clássico começava muitas vezes, com o alap tocado em surbahar, seguido da composição em sitar.

Em inícios do século XX, a sitar - até aí ancorada nos instrumentos persas seus antecessores, como o tambur e a satar - recebeu duas cordas-baixo do surbahar, obrigando a alargar o braço e a caixa de ressonância, com o acrescento das cordas solidárias (as 11 ou 13 cordas que, sob as principais, vibram de acordo com as notas tocadas) e de uma pequena cabaça no topo de trás do braço oco. Este novo modelo, com as potencialidades expressivas alargadas, acabou por eclipsar a rudra veena e o próprio surbahar, e foi sendo conhecido no Ocidente a partir dos anos de 1950.

Franklin Pereira começou a aprender música na Índia em 1981, com Pandit Shreeniwas Keskar, em Poona; continuou em Benares, em 1982, com Raj Bhan Singh e, em 1983 e 1985, com Hemraj Nishad. Em 1989 e 2004, voltou a Poona para mais aulas de sitar, com Atul Keskar; nesta última data também teve aulas de rudra veena com Pandit Hindraj Divekar. Em 2007 e 2008, regressou a Poona, tendo ainda aulas com Rafeeq Nadaf. Desde 1985 que toca em Portugal, a solo, ou acompanhado. Contacto: frankleather@yahoo.com.

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