Sugestão de filme - Quem Quer Ser Bilionário

Assista ao trailer mais abaixo.

Eu já vi este filme. Aliás, vi este filme muito antes de ele estrear no meu país (Portugal) e ter ganho 8 óscares da Academia. Convém dizer que não o fiz de uma forma moral ou eticamente correcta como seria de esperar de um intitulado professor de Yoga.

O desejo de ver esse filme era tão grande que quebrei o próprio Dharma apenas para satisfazer a minha vontade egoísta. Não será preciso entrar em pormenores, mas com certeza o leitor já entendeu que com o advento da internet e vulgarização dos programas peer-2-peer, hoje em dia, tornou-se possível assistir a um filme mesmo antes da sua estreia nas salas de cinema. Desta forma, o utilizador destas tecnologias poupa algum do dinheiro que gastaria, inevitavelmente, no aluguer de filmes, nos bilhetes de cinema e na compra de música, entre outros. Eu fiz isso mesmo.

Tudo isto aconteceu pouco depois de iniciar um estudo mais profundo da Bhagavad-Gita, com o professor Miguel Homem (1). Escusado será dizer que, graças à visão que me estava a ser concedida, eu estava plenamente consciente do que estava a fazer: privar os actores, guionistas, realizador e sua equipe técnica, estúdios, distribuidoras, cinemas e clubes de video de prosperarem e terem o devido reconhecimento do seu trabalho. Na altura, apenas olhei para o meu umbigo. Mas, ver um filme e reconhecer nele qualidades virtuosas, que vão para além do mero entretenimento, não foi suficiente para satisfazer o meu desejo de consumir mais e, se possível, melhor. No entanto, fez-me pensar se algum dia esse desejo iria aquietar-se e ao que eu teria de chegar para o pacificar.

Num outro filme que vi na altura, também "baixado" a partir da internet um monge tibetano, no seu leito de morte, pede o seguinte ao seu (in)discípulo: "Se na próxima encarnação nos encontrarmos, por favor, diz-me se é melhor satisfazer os milhares desejos da mente ou dominar apenas um" (2). Esses foram tempos conturbados para mim, mas sinto que aprendi e cresci. Foi parte do caminho que trilhei. Também sou eu. Hoje espero poder redimir-me alertando para o peso na consciência que tais atitudes acarretam (para além de serem ilegais) e na necessidade de apreciarmos correctamente o trabalho dos outros, pagando por aquilo que queremos obter e, quando tal estiver fora das nossas possibilidades imediatas, canalizar a nossa atenção para uma outra actividade legal e eticamente aceita, como o estudo, o trabalho, ou arte. Actividades que necessitam do nosso empenho e que nos permitem crescer espiritualmente, sem prejuízo premeditado para os outros.

Entendo que, na Bhagavad-Gita, quando Krishna, que assume o papel de guru (mestre) diz a Arjuna, seu aluno, que Ele é a fonte de todos os desejos não deveremos supor que a vontade divina é satisfazer todo e qualquer impulso de uma forma indiscriminada e aleatória, pois, em última análise cabe à nossa liberdade de escolha, ou livre arbítrio, se o leitor preferir, decidir sobre as nossas acções (os nossos karmas). Não é à toa que, no início do ensinamento tradicional do Yoga de Patañjali (3), se dá muita importância aos Yamas e Nyamas (recomendações éticas, como não-violência, veracidade, não-roubar, etc) e no início do ensinamento de Jñana Yoga se transmite o valor dos valores (4). Lá diz a sabedoria popular: "os fins não justificam os meios".

Necessitamos de mais Yoga que isto?



1. Site oficial do professor Miguel Homem: www.dharmabindu.com.
2. Link para resumo do filme em Internet Movie Database: Samsara.
3. Ver Yoga-Sutras de Patañjali.
4. Swami Dayananda, Valor dos Valores, tradução portuguesa, Vidya Mandir, ISBN: 85-86763-04-7

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