Ātmaṣaṭakam - Ādi Śaṅkarācārya

Sobre a vida de Ādi Śaṅkarācārya, diz-nos Svāmi Dayānanda Sarasvatī no site do Vidya Mandir: "É dito que Śaṅkara viveu no século oitavo. Esta data é contestada por alguns, que afirmam ter ele vivido há muito mais tempo do que isso. Se é verdade que Buddha data de 500 a.C., então Śaṅkara pode ter vivido no primeiro século a.C., ou no primeiro século d.C., o mais tardar.

Śaṅkara é considerado um dos grandes mestres da tradição de Advaita (não dual) Vedānta. A forma escrita da tradição é disponível somente a partir de Śaṅkara, com exceção de uns poucos textos, pois perderam-se os trabalhos dos mestres mais antigos. São os comentários de Śaṅkara, entretanto, que formam a base para a tradição do ensinamento conhecido como Vedānta. O próprio Śaṅkara falou a respeito dessa tradição (Sampradāya) e citou outros mestres. Ele nunca afirmou que estivesse iniciando alguma coisa. Contudo, ele conseguiu apreender o ensinamento em forma escrita num estilo muito agradável e profundo.

Quem quer que busque com seriedade, mesmo nos dias de hoje, estuda os Bhāsya [comentários] de Śaṅkara com o auxílio de um professor qualificado, que tenha se submetido ao estudo tradicional. Esse estudo é a busca espiritual tradicional e é como desenvolvemos um claro entendimento do que trata o ensinamento encontrado no Veda (Śruti).

Para entendermos a visão da Śruti, precisamos de uma chave, que nos é fornecida pelos Brahmasūtras. Porque os Brahmasūtras também não podem ser facilmente abertos, precisamos de uma outra chave - e essa chave é Śaṅkara. Assim, temos a chave, os Brahmasūtras desdobrados e apresentados por Śaṅkara, de acordo com a tradição, juntamente com seus comentários sobre os versos reais no Veda dos quais esses importantes Sūtras tratam. Porque Śaṅkara nos deu ambos, a tradição do ensinamento e o corpo do conhecimento, ele é considerado como sendo um elo muito importante nessa tradição.

Śaṅkara tornou-se o símbolo do próprio conhecimento que ensinou. Por essa razão, antes do início de qualquer aula de Vedānta, nós sempre pensamos nele. Somente então a iniciamos. Śaṅkara não foi o iniciador de Advaita Vedānta, como algumas pessoas sustentam. Ele meramente foi um dos elos dessa antiga tradição de ensino. Não criou nada novo, mas tratou, realmente, de questões contemporâneas do ponto de vista do ensinamento, que fizeram dele um grande mestre."

Em baixo, apresentamos um texto atribuído a Śaṅkarācārya denominado "Ātmaṣaṭakam", também conhecido como "As Seis Estrofes da Iluminação". Utilize os leitores após cada estrofe para escutar cada cântico e acompanhe com a leitura do devanāgarī e da transliteração internacional do alfabeto sânscrito (IAST). A tradução para português foi gentilmente cedida pelo professor Pedro Kupfer.


॥ आत्मषटकम् ॥
|| ātmaṣaṭakam ||

मनोबुद्ध्यहङ्कारचित्तानि नाहं
न च श्रोत्रजिह्वे न च घ्राणनेत्रे ।
न च व्योमभूमिः न तेजो न वायुः
चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ १ ॥

manobuddhyahaṅkāracittāni nāhaṁ
na ca śrotrajihve na ca ghrāṇanetre |
na ca vyomabhūmiḥ na tejo na vāyuḥ
cidānandarūpaḥ śivo'haṁ śivo'ham || 1 ||

Não sou mente nem razão, não sou ego nem consciência;
não sou audição, nem paladar, olfato nem visão;
não sou espaço nem terra; não sou luz nem ar.
Em forma de consciência e felicidade, eu sou Śiva, eu sou Śiva.



न च प्राणसंज्ञो न वै पङ्चवायुः
न वा सप्तधातुर्न वा पङ्चकोशः ।
न वाक् पाणिपादौ न चोपस्थपायू
चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ २ ॥

na ca prāṇasaṁjño na vai paṅcavāyuḥ
na vā saptadhāturna vā paṅcakośaḥ |
na vāk pāṇipādau na copasthapāyū
cidānandarūpaḥ śivo'haṁ śivo'ham || 2 ||

Não sou o que se conhece como energia, nem os cinco alentos vitais;
nem os sete elementos, nem os cinco corpos;
não sou fala, nem mãos ou pés; nem sexo nem eliminação.
Em forma de consciência e felicidade, eu sou Śiva, eu sou Śiva.



न मे द्वेषरागौ न मे लोभमोहौ
मदो नैव मे नैव मात्सर्यभावः ।
न धर्मो न चार्थो न कामो न मोक्षः
चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ ३ ॥

na me dveṣarāgau na me lobhamohau
mado naiva me naiva mātsaryabhāvaḥ |
na dharmo na cārtho na kāmo na mokṣaḥ
cidānandarūpaḥ śivo'haṁ śivo'ham || 3 ||

Não tenho apego nem aversão; nem ambição, nem ilusão;
orgulho e inveja não são meus;
não tenho deveres, nem objetivos, nem desejos, nem busco a libertação.
Em forma de consciência e felicidade, eu sou Śiva, eu sou Śiva.



न पुण्यं न पापं न सौख्यं न दुःखं
न मन्त्रो न तीर्थं न वेदा न यज्ञाः ।
अहं भोजनं नैव भोज्यं न भोक्ता
चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ ४ ॥

na puṇyaṁ na pāpaṁ na saukhyaṁ na duḥkhaṁ
na mantro na tīrthaṁ na vedā na yajñāḥ |
ahaṁ bhojanaṁ naiva bhojyaṁ na bhoktā
cidānandarūpaḥ śivo'haṁ śivo'ham || 4 ||

Não sou virtude, nem erro; nem alegria nem sofrimento;
nem os mantras, nem os lugares sagrados; nem as escrituras, nem os rituais;
não sou o prazer, nem o que produz o prazer, nem aquele que o desfruta.
Em forma de consciência e felicidade, eu sou Śiva, eu sou Śiva.



न मे मृत्युशङ्का न मे जातिभेदः
पिता नैव मे नैव माता न जन्म ।
न बन्धुर्न मित्रं गुरुर्नैव शिष्यः
चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ ५ ॥

na me mṛtyuśaṅkā na me jātibhedaḥ
pitā naiva me naiva mātā na janma |
na bandhurna mitraṁ gururnaiva śiṣyaḥ
cidānandarūpaḥ śivo'haṁ śivo'ham || 5 ||

Não sou morte nem medo; não tenho classe social;
nem pai, nem mãe, nem nascimento são meus;
não tenho parentes nem amigos; nem mestre nem discípulos.
Em forma de consciência e felicidade, eu sou Śiva, eu sou Śiva.



अहं निर्विकल्पो निराकाररूपो
विभुर्व्याप्य सर्वत्र सर्वेन्द्रियाणाम् ।
सदा मे समत्वं न मुक्तिर्न बन्धः
चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ ६ ॥

ahaṁ nirvikalpo nirākārarūpo
vibhurvyāpya sarvatra sarvendriyāṇām |
sadā me samatvaṁ na muktirna bandhaḥ
cidānandarūpaḥ śivo'haṁ śivo'ham || 6 ||

Sou imutável, sem estrutura nem forma;
não sou escravo dos sentidos. Permeio todo o existente.
Sou o todo. Estou além dos condicionamentos e da libertação.
Em forma de consciência e felicidade, eu sou Śiva, eu sou Śiva.



॥ इति श्रीमच्छङ्कराचार्यविरचितं आत्मषटकं सम्पूर्णम् ॥
|| iti śrīmacchaṅkarācāryaviracitaṁ ātmaṣaṭakaṁ sampūrṇam ||

Para saber mais sobre Ādi Śaṅkarācārya leia o artigo "A vida de Śaṅkarācārya", por Śrī Sevadal.

Tradução do texto retirada de Yoga.pro.br, e republicada em www.YogaVaidika.com com a permissão do autor (Pedro Kupfer). Cantado por Dr. Anjaneyulu Goli. Na última estrofe, a terceira linha difere um pouco da versão escrita para a versão vocalizada, em nada alterando o sentido geral do texto. Imagem de topo propriedade de Himalayan Academy, usada sob licença Creative Commons.

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